sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ao sul do Mampituba


O gauchismo (o tal que esboça índices altíssimos de rejeição) vive um de seus momentos mais difíceis: inflado de razão e sentimentos de superioridade por possuir históricos de politização, desenvolvimento econômico e educacional com indicadores maiores do que a média do país (e que se diga: em franca queda!), ao mesmo tempo amarga o fel da indiferença que escoa do resto do país e deságua em terras pampeanas. Causa suficiente pra uma espécie de filho criado e crescido que se sente rejeitado instalar-se no imaginário dos extremo-gauchos, como se tudo de ruim fosse premeditadamente elaborado e dirigido a este alvo que só existe abaixo do Mampituba. Uma rebeldia sem causa, tão adolescente quanto campanhas publicitárias que tiveram nessa parte da população um enorme acolhimento e sucesso,  tais como: "Isso só tem aqui!" ou "Isso não sai daqui!" ou "Isso não entra aqui!", todas com sinais claramente evidentes de separatismo que jogam e brincam, em suas entrelinhas, com estes sentimentos enrustidos.
E uma eterna revolução farroupilha vive a germinar na nos pampas. Pampa que ainda não conseguiu se libertar da vontade (não muito clara) de não fazer parte disso tudo que está aí, disso tudo que "se não é bom pra mim, não pode ser bom!", que prefereria separar-se à protagonizar mudança, que prefere escarrar à engolir a própria raiva ou deficiência, que herdou do passado a ideia de que se todos tivessem se servido de nossas façanhas como exemplo, espelharíamos nosso modelo a toda a terra.
O tragicômico dessa ideia é que assim como o ego inflado, o orgulho ferido é parte também de um processo de identidade distorcida e narcisismo que causa um comportamento cheio de paradigmas, padrões e pré conceitos, fazendo com que parte da população desacredite e renegue quase tudo o que venha do além rio, uma premissa perigosíssima para atitudes futuras de intolerância e preconceito.
Uma enorme perda! Perdem os gaúchos. Perdem porque a troca ampla tão necessária não acontece, porque as culturas não se miscigenam, porque ainda muitos se encerram em suas mesmices, e eis que, sob pena de serem "confundidos e misturados" com o resto dos brasileiros, obrigam-se a alimentar-se tão somente de si mesmos e de suas heranças umbilicais. Perde também o Brasil que receberia gratamente esta cultura como referência, como modelo sim, das diferenças. Perdemos todos afinal!

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