domingo, 10 de agosto de 2014

Dia de Grenal

Hoje é dia de Grenal
Soube disso hoje cedo assistindo o jornal
Hoje é dia de Grenal
Meu Porto prepara mais um carnaval
O dia começou com uma briga na praça entre o dono do cão e a Maria da Graça
Ela não viu a cáca que tava no chão, e acabou se sujando, uma indignação
Era o grenal primeiro, cocô no canteiro contra pé de corredor
Depois o ciclista que vinha na pista, atropelado pelo manobrista
Na faixa vermelha caído gritava, não fuja, me ajude, olhe pra minha dor
Era o grenal segundo, o do motorista com o trabalhador
No escritório uma pausa pra conversação, atiçava uma calorosa discussão
Entre o chefe vaidoso, dono da razão e a loiríssima gata da recepção
Sobre as tais cotas de 20%, loira e pobre ela queria explicação
Era o grenal terceiro entre o esperto abastado e a população.
Na hora do almoço o garçon decidiu, só servir quem lhe fosse ao menos gentil
Lembrou daquele tempo que não volta mais
Em que o homem dizia, somos todos iguais
Era o quarto grenal separando de vez as classes sociais
Na sacada do prédio a mulher reparou um encontro lascivo, uma prova de amor
Disse: agora de vez esse mundo acabou
Era o filho da outra com seu professor
E no quinto grenal Porto Alegre não via nada original
Se tratava do papo da conservadora declarando guerra ao homossexual
Hoje é dia de Grenal
Soube disso hoje cedo assistindo o jornal
Hoje é dia de Grenal
Meu Porto prepara mais um carnaval
Mesmo quando os dois times não entram em campo
Há grenal na cidade por todos os cantos
Vermelhos, azuis, verdes, pretos e brancos
Cada qual puxa a brasa em sua direção
Essa guerra maluca não tem solução
Olhando de perto ninguém tem razão
Não há vencedor nesse jogo entre irmão
Hoje é dia de Grenal
Soube disso hoje cedo assistindo o jornal
Hoje é dia de Grenal

Meu Porto prepara mais um carnaval

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Sai cada bosta de cada boca...

Que bosta! Que bosta a natureza ter sido tão generosa com essa região. Que bosta as centenas de praias paradisíacas de águas mornas, verdes e limpas. Que bosta essa mania de rir que se tem por aqui. Que bosta essas cores vivas que insistem em permanecer presentes todo santo dia! E que bosta festejar a chuva como uma benção!?!? Que bosta estes tantos talentos de genialidade incomum. Que bosta o sol diariamente alimentar as mentes de cada um desses seres humanos e dar-lhes a clareza de entenderem que o espírito de tudo o que é saudável, está na gentileza e solidariedade. E que seus sorrisos abrem as portas de suas almas e colocam-nas em contato pleno e permanente umas com as outras. Que bosta, que apesar de terem sofrido e sofrerem ainda, em tantos destes cantos, acreditam que tudo é possível e que há graça nas pequenas coisas. Que bosta serem tão populares, e que bosta que o mundo quando olha pra baixo, os vê em primeiríssimo lugar. Não porque estão logo abaixo, mas porque estão de braços abertos, sempre. Uma verdadeira bosta pra quem tem nariz torcido, raiva no corpo e no olhar e que de tudo reclama, como por obrigação. Porque pra esses, inclusive para os que são ou sentem-se geniais, apesar de terem colhido de toda uma cultura por possuírem chance e acesso a isso, tudo o que lhe for estranho como um olhar sereno, um sorriso de graça, um auxílio sem solicitação, uma conversa desinteressada, e mais uma imensidão dessas coisas que de mãos cheias os nordestinos estão, ah! isso vai lhes causar tanto espanto, e a alguns infelizmente: nenhuma comoção. Troco esses 40 livros por 40 dias de convívio. Pra mim, o suficiente!

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Noite de São João

Eram dias assim, frios, chuvosos, daqueles que não daria vontade de sair de casa, aqueles que antecediam São João, mas saíamos todos numa aventura em busca das lenhas e madeiras que ajudariam a compor nossa fogueira que comemoraria a noite de São João, a noite em que ele mijava nas laranjas e a partir dali elas ficariam mais doces, as de umbigo, claro; a noite mais longa do ano (mesmo que os professores nos ensinassem que o tal solstício acontecera dia 21 ou 22). E dias antes desta maravilhosa noite de inverno frequentávamos casas de vizinhos, madeireiras, terremos baldios, praticávamos podas e olhávamos a tudo e a todos com o filtro da madeira.
Que tal um pneu? - Diziam os mais empolgados...
Não!!! Ano passado quase queimamos a fiação da rua. Nem pensem nisso! - Respondiam os mais cautelosos.
E a turma continuava sua saga pela construção da maior e mais duradoura fogueira dos arredores.
Marcelo, Paulo Otávio, Ricardo, Gilnei, Jorginho, Glaucius, Rogério, Marta, Dirce, Eduardo, Suzana, Janete, Ester e Rosane, Pita, Enio e Luluta...as crianças da Major Cícero davam trabalho a Paulo, Sueli, Ramalho, Nair e Antoninho, Antonio Carlos, Marlene, Orvelinda, Rubens, Tereza e Turene, os pais da Major Cícero.
E tudo se catalisava na noite de 23 de junho, quando tudo queimava. Queimavam as paixões e os corações inocentemente entregues a outros corações igualmente entregues, queimavam as raivas e os ódios, queimavam problemas, queimavam doenças, desavenças e diferenças. Tudo queimava no fogo de São João! Porque depois que as crianças dali faziam a sua parte, juntando todo tipo de componente, adultos que haviam ajudado a cuidar da montagem e dos possíveis riscos que a inocente fogueira trazia, participavam atentamente do evento. E não só cuidados eles tinham. Era comum enxergarmos em seus olhos, durante a queima, o brilho de nossa felicidade ali estampada, assim como de suas lembranças. Éramos nós e suas lembranças dançando, brincando e cantando à sua frente, iluminados pelo fogo da fogueira de São João!

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Sangue

Aguardei um grande acontecimento durante a copa para que pudesse expor o que vinha pensando. Eis que até o momento e talvez durante um bom tempo ainda, este grande acontecimento é a eliminação da campeã Espanha pelo Chile.
Esperei porque o que vi antes talvez não fosse suficiente pra esta conclusão. Mas depois de ver chilenos cantando seu hino após o playback da Fifa com sangue nos olhos, e mesmo que alguém diga que isso não é novidade e que nós brasileiros fazemos isso desde a copa das confederações, eu responderia que não, não assim: nós brasileiros já o fizemos, claro, é inegável. Mas na nossa copa, na nossa casa já nos enxergo cantando nosso hino porque é bonitinho, porque vamos aparecer no telão, porque estamos filmando e vamos postar, e por uma série de outros motivos de menor importância.
Nos olhos de cada chileno que apareceu na tela durante o hino, eu enxerguei a vitória de seu time frente a uma potência que já havia dado sinais de fragilidade, mas frente a qual não se poderia vacilar por um minuto sequer.
Por isso transcrevo aqui uma pequena chamada que ouvi do "nosso comandante" Felipão, dias antes do Brasil entrar em campo contra México e deixar parte da população frustrada com a falta de habilidade em furar bloqueios e resistir a duras marcações. Ouvi algo do tipo, da voz de Luis Felipe Scolari: "Não pensem que vamos entrar em campo e dominar o jogo...não pensem que vamos ser superiores ao México...não pensem que..." ora. Como, Felipão? O que você disse? Que palavras são essas?...
E como uma profecia, não dominamos o jogo, não fomos superiores e não seja mais o que...
Um método muito estranho de tirar a responsabilidade dos ombros de uma equipe. Esteja eu errado e Felipão, ao contrário do que nos disse, disse aos meninos que enfurecessem, que furassem todo e qualquer bloqueio que os mexicanos pudessem oferecer. Mas não foi o que pareceu...o que pareceu foi exatamente o que foi dito nas chamadas pré-jogo que ouvi.
Estes rapazes estão em casa e defendem uma seleção que representa 200 milhões de pessoas. Têm obrigação moral de arrancar de si mesmos o sangue que for necessário pra ganhar todas as partidas, assim como vi fazer o Chile hoje diante de uma cara e apática Espanha. Parabéns chilenos, vocês até agora merecem demais o que já conquistaram e por tabela deram de presente pra Holanda: a classificação antecipada para a próxima fase da copa.
E aos meninos e comandantes de nossa seleção um recado: Davi Luis não ganhará sozinho uma copa que assim como outras, mostra que sangue nos olhos é um fator de extrema relevância.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ao sul do Mampituba


O gauchismo (o tal que esboça índices altíssimos de rejeição) vive um de seus momentos mais difíceis: inflado de razão e sentimentos de superioridade por possuir históricos de politização, desenvolvimento econômico e educacional com indicadores maiores do que a média do país (e que se diga: em franca queda!), ao mesmo tempo amarga o fel da indiferença que escoa do resto do país e deságua em terras pampeanas. Causa suficiente pra uma espécie de filho criado e crescido que se sente rejeitado instalar-se no imaginário dos extremo-gauchos, como se tudo de ruim fosse premeditadamente elaborado e dirigido a este alvo que só existe abaixo do Mampituba. Uma rebeldia sem causa, tão adolescente quanto campanhas publicitárias que tiveram nessa parte da população um enorme acolhimento e sucesso,  tais como: "Isso só tem aqui!" ou "Isso não sai daqui!" ou "Isso não entra aqui!", todas com sinais claramente evidentes de separatismo que jogam e brincam, em suas entrelinhas, com estes sentimentos enrustidos.
E uma eterna revolução farroupilha vive a germinar na nos pampas. Pampa que ainda não conseguiu se libertar da vontade (não muito clara) de não fazer parte disso tudo que está aí, disso tudo que "se não é bom pra mim, não pode ser bom!", que prefereria separar-se à protagonizar mudança, que prefere escarrar à engolir a própria raiva ou deficiência, que herdou do passado a ideia de que se todos tivessem se servido de nossas façanhas como exemplo, espelharíamos nosso modelo a toda a terra.
O tragicômico dessa ideia é que assim como o ego inflado, o orgulho ferido é parte também de um processo de identidade distorcida e narcisismo que causa um comportamento cheio de paradigmas, padrões e pré conceitos, fazendo com que parte da população desacredite e renegue quase tudo o que venha do além rio, uma premissa perigosíssima para atitudes futuras de intolerância e preconceito.
Uma enorme perda! Perdem os gaúchos. Perdem porque a troca ampla tão necessária não acontece, porque as culturas não se miscigenam, porque ainda muitos se encerram em suas mesmices, e eis que, sob pena de serem "confundidos e misturados" com o resto dos brasileiros, obrigam-se a alimentar-se tão somente de si mesmos e de suas heranças umbilicais. Perde também o Brasil que receberia gratamente esta cultura como referência, como modelo sim, das diferenças. Perdemos todos afinal!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Vai ter Copa!


Faltam 3 dias. Há tempo pra sair pelas ruas e ver automóveis circulando com bandeirinhas verde amarelas, e há tempo pra visitar bairros que estão pintados nestas cores, em fachadas, portas e janelas, em faixas e cartazes. Há tempo de prestar atenção nos táxis e suas bandeiras do Brasil por cima dos capôs, e também nos coletivos adesivados. Há tempo de entrar em promoções de sorteios de prêmios temáticos em postos de combustível e shoppings. Há tempo de entrar em lojas especializadas ou não, hotéis, pousadas, restaurantes, escolas, e ver decorações temáticas demarcando a fronteira da copa, este evento sem igual que deixa o país de portas e braços abertos para o mundo durante mais de 30 dias. Há tempo pra entrar em bares que tematizaram-se em verde e amarelo, certos que reunirão a cada um dos 64 jogos, torcedores, apreciadores, admiradores e curiosos. Há tempo pra ver ambulantes nos sinais vendendo todo tipo de souvenir, há tempo também de ver meninos e meninas jogando bola nas praças e parques da cidade. Há tempo de assistir a estas dezenas de comerciais maravilhosos que estão no ar em homenagem a copa do mundo vendendo um todo tipo de produtos. Há tempo de se programar e decidir em quais das inúmeras opções de festas pré e pós jogos será possível confirmar presença, e há tempo de encontrar pelas ruas estes milhares de turistas que chegaram e ainda chegarão no país. Há tempo para entrar em bolões, dando palpites, arriscando errar...há tempo pra pensar como é agradável ter um evento desses acontecendo no quintal de casa. Há tempo pra bater bola com a criança interna. Há tempo de se aproximar e se apaixonar. Há tempo pra entrar no clima e se contaminar, e vestir verde e amarelo, porque quinta a gente entra em campo!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Imagina na Copa

          Daqui a alguns dias, alguns de nós viverão intensamente este evento polêmico que se tornou a Copa do Mundo "Fifa" (sim...não quero ser processado...) de futebol. Intensidade essa que se revela nas críticas, elogios, polarização política, reclamações, sugestões, e todo tipo de interferência que nos permitem os meios de comunicação, especialmente as redes sociais, onde cada um é o seu próprio jornal nacional dirigido ao público que lhe compete. E assim como quem tenta colonizar o cérebro alheio, cada um de nós expõe suas cotas de sentimentos: ódio, paixão, raiva, fanatismo, etc.
É perfeitamente legítimo que algumas pessoas engajadas em partidos, instituições, órgãos diretamente envolvidos nessa discussão que virou tema recorrente, demonstrem suas opiniões repletas de argumentações de caráter social, econômico e político, e ainda, que outros utilizem-se desta argumentação pra pegar carona, afinal, somos sugestionáveis e influenciáveis, mas chama-me atenção que muitos de nós estejamos ocupados em levantar e expor dados e situações pertinentes à nossa restrita área de vivência e convivência.
Uma boa quantidade de:
"Um viva para o país da copa. Levei 2h de casa ao trabalho!"
"Quanto entulho, o trânsito está parado, vou me atrasar hoje, imagina na copa..."
"Detesto futebol, pra que essa copa?"
"Não tenho nada a ver com isso, porque isso tá acontecendo?"

Algo do tipo, pra Fifa tudo e pra mim nada, portanto odeio a Fifa! Um estágio bem avançado de recalque, onde fica claro que o que é bom para outros, mas não lhe satisfaz ou beneficia, é péssimo!
Imagina na Copa!